quarta-feira, 14 de março de 2007

No fim do arco-íris tem apenas cereais matinais

Todo mundo está aderindo a internet. Hoje em dia muitas pessoas que outrora declararam total aversão, e desconhecimento, sobre informática, ou a um computador, têm seus endereços virtuais impressos em seus cartões de visita. A net tornou-se uma mania, algo essencial para vida moderna. Mãe , pai e filho querem entrar na onda. Ficar navegando no cyber-espaço a procura de notícias, informação de todo tipo, ou até mesmo uma boa conversa, paqueras virtuais, tornou-se a ocupação de muitos cidadãos. Democrática, a internet abre suas portas para qualquer um. Independente de raça, credo, classe social, idade e tec. A comunidade empresarial também está engatando seus vagões neste “trem” e aos poucos, cada vez mais se aventurando nesse território inexplorado que o cyberspace ...”

Textos como este, entusiasmadíssimos e visionários, marcaram as publicações no ramo de informática e tecnologia a partir do final da década de 80. Era mais que justificada toda a expectativa em torno de uma nova tecnologia que prometia uma revolução no mundo, não apenas o das telecomunicações, traria uma nova dimensão em todo conceito de comunicação e acesso a informação que se conhecia até aqueles dias. E de fato, graças a internet, observamos ao longo desse período, desde o seu estado embrionário até os dias de hoje, acentuadas mudanças na sociedade como um todo. É incontestável, a profética revolução tecnológica atingiu a todos. Influenciando radicalmente a cosmovizão e o pensamento do homem contemporâneo.

“... Não é apropriado pensar e redes como conexões entre computadores. Ao invés disso, deveríamos pensar que redes conectam pessoas, as quais utilizam os computadores para facilitar a comunicação entre elas. O grande sucesso da Internet não é técnico, e sim humano .David Clark(MIT lab)”

A “Grande Teia”, “super-rodovia da informação”, “Fronteira sem lei”, expressões como essas eram corriqueiras. Tal era o fascínio que, na época, essa “idéia” causava entre os arautos desse novo mundo, pois deixavam transparecer em suas dissertações escatológicas, sempre movidas por uma inspiração quase que poética, a mesma paixão que inflama o coração dos adolescentes.

A primeira vista, fizendo uma breve análise de todas as promessas contidas no "pacotão da internet", concordo que esse entusiasmo, de fato, tinha fundamento. Ou seja, esse entusiasmo parecia estar respaldado por todo conteúdo progressista. Afinal, diversas barreiras estariam sendo ultrapassadas pelo avanço tecnológico. A mensagem de pano de fundo deveria ser: _ “ Encontramos as respostas! com o auxílio de nossas eficientes ferramentas, a razão, o raciocínio lógico construiremos um mundo melhor do que já tivemos até hoje”. Todavia, se garimparmos cuidadosamente esses textos encontramos termos, expressões, metáforas e construções que nos remeterão a outros tempos, outras Eras do pensamento humano. Uma Era aonde a busca pela liberdade parecia mais intensa, uma época aonde o grito por justiça se fez ecoar ultrapassando limites geográficos e temporais por onde houvessem dominadores e dominados.

A sensação que tenho a partir desses apelos, é que os avanços tecnológicos alcançados durante o período chamado de “idade da razão” nos colocaram a anos luz de uma História marcada pela guerra, dominação e escravidão. Mas o que escravidão, passado, guerras tem haver com o as expressões e os discursos apaixonados sobre a Net? Interessante, permita-me tentar cheagr mais de perto alguns desses “discursos”:

“...e continua crescendo à medida que eu vou escrevendo ... esse mundo eletrônico que vai se avolumando rapidamente.

...“Cogumelos” talvez seja a mais adequada das comparações. Numa base diária, as redes e os pontos, grandes e pequenos, vão surgindo como fungos que crescem na margem fértil dos hardwares, softwares e acessos a redes que vão se barateando sem parar. Esse fato, junto ao trabalho duro, quase missionário, de milhares de pioneiros Net, levou a esse crescimento fenomenal. A internet e suas redes constituintes criaram uma “anarquia cooperativaglobal que não possui sede nem administração central. Ela vai crescendo organicamente, sem o benefício(ou carga) de um plano mestre...

Note que algumas das palavras grifadas no texto acima trazem embutidas em seus significados valores Históricos importantes para qualquer indivíduo. Significados, esses, que parecem emprestar seus valores para recompor um ideal, ou melhor um mundo ideal. Um sonho perdido, distante. Ora, se todo o entusiasmo está respaldado por um sentimento de satisfação pela conquista de algo jamais visto antes, e apontando para um futuro maravilhoso, “Encontramos as respostas e construiremos um mundo melhor ...”. Então, por que, ao invés disso, podemos ouvir nas entrelinhas de textos semelhantes ao citado acima, milhares deles, o seguinte:

“... Lembra-se daqueles ideais? liberdade, igualdade e fraternidade? Também poderíamos citar a democracia, a livre iniciativa, a liberdade de expressão, todos eles esquecidos a muito tempo atrás ? Pois está vindo um novo mundo, um mundo virtual aonde poderemos nos reencontrar com esses valores. Chegando esse mundo poderemos nos esquecer das guerras que criamos, das mentes que cerceamos e aniquilamos. Nos esqueceremos daqueles que, por deterem um certo conhecimento, ou dominarem determinada tecnologia, fizeram escravos e usurparam o pão da mesa de um inocente ...”

Através de um olhar cultural latino americano, pouco significado podemos retirar na frase, “...junto ao trabalho duro, quase missionário, de milhares de pioneiros Net...”. Porem, para um povo que, fugindo de uma perseguição religiosa, deixa sua pátria materna, pioneiros num novo mundo, a América, constrói um país com trabalho duro. As metáforas contidas nessa frase remetem o povo americano ao início da sua História. Quando os primeiros puritanos deixam suas origens na Europa, em direção a uma terra desconhecida a fim de construir uma nação baseada em ideais de liberdade igualdade. Os mesmos puritanos que enviaram, mais tarde, seus filhos por outros novos mundos desconhecidos, Brasil, África ect, como missionários de uma fé que, acreditavam, seria capaz de libertar os homens de toda escravidão. Isso traz a lembrança de um ideal distante, talvez esquecido para eles, perdido no tempo.

Como conciliar a idéia de que, hoje o pensamento democrático ocidental predominante no mundo, pensamento esse que está respaldado, digamos pela parte bem intencionada do sonho americano, esse por sua vez, um dos pilares que compõem o cerne da nossa sociedade industrializada, e mesmo assim, apesar de todo o progresso tecnológico proporcionado por esse sistema o homem moderno vai buscar na possibilidade de uma sociedade virtual, uma espécie de reedição de seus sonhos? É como se esse homem estivesse frustrado, com a sociedade real, ao invés de realizado com o que criou, vislumbra uma segunda chance, um recomeço, para acertar um alvo que não fora atingido. Surgem então alusões do tipo “Aldeia global”, anarquia cooperativa global, e o não tão novo jargão: “Sociedade alternativa”. Isso nos leva a crer que o bem sucedido homem da tecnologia está, na realidade, desesperado, e implora por uma alternativa. Algo que o faça lembrar do porque, e de como tudo começou. Talvez, em uma dimensão mais profunda do que imaginamos. Talvez esse homem busque alguma forma, algum jeito que o remeta ao início de tudo, um gênesis, ao paraíso, ao Éden.

“...O mundo inteiro, ou seja, todas as pessoas conectadas através de uma grande rede de comunicação. Onde, a princípio, todos poderiam se comunicar com todos, em outras palavras, a principal barreira que separa as pessoas, tempo e espaço, pelo menos imediatamente, seria acentuadamente amenizada ...”


Um lugar aonde ele pudesse se sentir integrado, em harmonia com o ambiente e o próximo. O que seria, a princípio, um paradoxo. Pois, que ambiente poderia fazer com que um ser que, em sua essência, traz a marca da contradição, e como conseqüência disso a impossibilidade total de integrar-se consigo mesmo e com o meio, pudesse sentir-se integrado? Basta flashback de uma visita a uma sala de bate papo, quanto mais democrática melhor, para se ter uma idéia do que estou falando. As relações existentes ali dariam um excelente laboratório para teses de sociólogos, antropólogos, psicólogos. Lembro-me do que pensei numa das últimas vezes que tentei participar de um chat desses tipo UOL: "A que ponto pode chegar o ser humano!"

“ ... Atualmente , a internet está fundamentada em propósitos culturais e comerciais, modelados na democracia, na liberdade e no acesso global, sem restrições sociais, políticas ou econômicas; Transparentes as praticam de monopolização, não pertencendo a nenhum país, ou empresa em particular ...”

Considerada a mais nova obra prima da engenharia da computação, a internet é atualmente o tema principal da área de informática. O universo virtual tão esperado tem se tornado cada vez mais a realidade de muitas famílias, empresas, corporações, entidades governamentais, e não-governamentais. A internet deixou de ser apenas um assunto futurístico, embora que muito se espere ainda dessa tecnologia, para se tornar o alvo, e meio de produção de muitas empresas.

Contudo, julgo que embora a internet fisicamente tenha tomado nossa sociedade de assalto, porém muitas definições e conceitos novos ainda não estão totalmente sedimentados e digeridos pelos setores, digamos, infectados, direta ou indiretamente por essa www.epidemia.com. Há tanta confusão, que podemos dizer que a Internet ainda é algo que não está muito claro e a maioria dos entusiasmados que bravamente se prontificam na árdua tarefa de tentar explicar-la acabam enredados numa teia (uma web) de signos, significantes e significados, teorias revolucionárias, reacionárias e conspiratórias. Algumas vezes chagam a nos proporcionar boas risadas, outras vezes nos resta chorar.

Noto que o tom megalo-otismista-poético que permeava toda a expectativa da sua chegada mudou sensivelmente. Hoje o tom predominante nos textos, vinculados nos mais variados tipos de mídia, tomam um tom mais preocupado, todo aquela ambientação bucólica dá lugar a um cenário nada agradável. E sonhada “Aldeia global”, mais parece uma “cyberjungle”. Um gênesis repleto de spam, invasão de privacidade, backdoors, trustes, vendas casadas, crise de propriedade intelectual (principalmente), ect. Recentemente, pude presenciar uma reunião de gestores de uma conhcida empresa do ramo de ensino no Brasil com o seguinte dilema: Se colocamos o material didático no LMS, seremos prejudicados pela pirataria . Pois segundo eles, alguns clientes deixariam de se inscrever no curso pos poderiam ter acesso ao material através de algum colega matriculado. Portanto, conclui-se que no LMS deles não seria disponibilizado o material didático. Pode?

Será que estou sendo negativista? Talvez a internet não seja uma compilação de coisas negativas, mas com certeza ela hoje está longe de ser o refúgio dos paladinos da democracia, como era esperado. Visto que, cada vez mais sua expansão se dá na direção de interesses corporativos.

Todo esse ambiente de contradições já era de se esperar. Se levarmos em consideração que a tão desejada sociedade democrática, construída sobe a iluminação da reforma religiosa juntamente com a revolução francesa, se transformou num mostro avesso a todos os valores de seus precursores. E pegarmos os filhos dessa sociedade contraditória, representantes das diversas, e heterogenias, classes que a compõe e os soltarmos num espaço com um número bem menor de regras, e ainda por cima um espaço repleto de elementos, virtualmente físicos e lógicos, totalmente novos. “BIG BANG”!!!!!!!!!!!!!!!! pode-se imaginar algo parecido com o caos.

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